Por Milena Bagetti –
professora de química de Campinas
A Agência Internacional de
Pesquisa em Câncer (IARC) classifica o Percloro (também chamado de
tetracloroetileno (C2Cl4 / Cl2C=CCl2) como potencial cancerígeno humano (Grupo
2A), com base em estudos epidemiológicos (estudos cuja finalidade é
caracterizar o processo saúde-doença dos indivíduos) que evidenciaram aumento
do risco de câncer de esôfago e cervical. O percloro é utilizado em larga
escala como solvente desengraxante de metais na indústria, principalmente
automobilística e autopeças. Também utilizado na lavagem de roupa a seco onde
há uma certa tendência de crescimento de consumo no país e na indústria têxtil.
Muitos trabalhadores se expõem ao
composto por um período considerável (cerca de 10 anos). Sendo que o contato
com o percloro já por pouco tempo
(algumas horas) pode causar tonturas, náuseas, vômitos (intoxicação aguda),
demonstrando escandalosamente do que os patrões estão dispostos para não
rebaixarem seus lucros. Esta situação ocorre com mais intensidade às pequenas
fábricas, por sua menor margem de manobra frente os ajustes, ignorando
completamente a saúde dos trabalhadores.
Os trabalhadores que tiveram
menor ou maior contato com o percloro precisam ser estimulados a fazer exames de resíduos
no organismo e orientados a trabalhar
com todos os equipamentos de proteção como as máscaras adequadas com filtro
para vapores orgânicos (VO), pois algumas
de tecido comum concentram os vapores tóxicos dentro dela própria, roupas
impermeáveis, luvas nitrílicas ou de PVA, creme de proteção para a pele grupo 2
(resistente contra óleos e solventes químicos).
É fundamental que se repense a
utilização do Percloro em qualquer ambiente de trabalho no Brasil, seja nas
fábricas ou lavanderias, que faz com que os trabalhadores, muitos deles, negros
se exponham ao risco potencial de câncer, para além de toda precariedade normalmente
instaurada. Que sejam realizadas análises do ar dos locais de trabalho para verificar
o nível de percloro (a concentração de gases e vapores no ar pode ser rapidamente determinada pela leitura
direta de instrumentos e a determinação de Hidrocarbonetos Halogenados pode ser
realizada por Cromatografia Gasosa Detector FID).
Estamos acompanhando nos EUA
muitas manifestações de rua contra a violência policial racista, tendo como
exemplo Eric Gardner, que gritava: “eu não consigo respirar”. É necessário
lutarmos contra a violência patronal que
expõe os trabalhadores no dia a dia da
fábrica, fazendo com que respirem potenciais cancerígenos.
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