segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Lições da greve da USP



1)Não tem arrego! 
Quando os garis do Rio de Janeiro fizeram sua greve histórica, impondo derrotas ao governo e à patronal, atropelando seu sindicato vendido, a mídia burguesa e a repressão policial, nós dissemos: façamos como os garis! Os trabalhadores da USP, nos momentos mais difíceis, lembravam dos garis. Tomar as lições desta greve, para que a cada nova luta não partamos do zero e possamos avançar na luta de classes é tarefa fundamental. A importante lição para os trabalhadores, que tiramos destas duas greves, é que nunca partamos do zero e confiemos nas na força dos trabalhadores!

2) Precisamos retomar os sindicatos como ferramentas de luta e unir a tradição combativa com o novo vigor da juventude
Ter um sindicato democrático e combativo, como o Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), que impulsiona a organização dos trabalhadores a partir da base, garantiu que nada nos segurasse! No nosso sindicato, temos uma tradição combativa há décadas. As jornadas de junho de 2013 trouxeram uma nova camada de jovens trabalhadores para a luta. O vigor da juventude aprendendo com a tradição de luta do Sintusp foi decisiva pra vitória e assegura o futuro de luta da categoria. Precisamos tirar os dirigentes vendidos dos sindicatos, que são amigos dos governos e patrões, para haver outros como o Sintusp, unindo o melhor dos lutadores de tradição com a juventude.

3) É fundamental a mais ampla democracia operária
Temos uma tradição que mais uma vez se concretizou. Na greve, a diretoria do Sintusp não faz reuniões separadas. O PODER DE TODAS AS DECISÕES é da base em assembléia, reuniões de unidade e no COMANDO DE GREVE, que tinha mais de 100 delegados eleitos nas reuniões de cada unidade. Estes representantes ligam a base da categoria e a direção da greve, no caso, o próprio Comando de Greve, que tinha o "pulso" da categoria, podendo levar adiante as propostas que surgiam na base e enfrentar os problemas coletivamente. Se algum representante não levasse as posições de cada unidade pro Comando (onde também podia colocar suas posições para avançar o movimento) e vice-versa, outro trabalhador poderia ser eleito em seu lugar. Ainda assim, tudo que foi discutido no Comando era aprovado por um organismo soberano, a Assembleia Geral, onde o microfone era aberto para qualquer trabalhador.


4) Os trabalhadores devem ir além da luta pelo salário, tomando para si as demandas do povo oprimido
Nossa luta não foi unicamente pelo salário, questão na qual conseguimos derrotar o 0% que queriam nos impor durante 100 dias e chegamos a 5,2% (com abono retroativo à database), mas em defesa da educação e saúde públicas. Mostramos que estamos ao lado da população. Mais de 100 trabalhadores doaram sangue, em um ato-doação, para anunciar que “enquanto a Reitoria dá o sangue pro patrão, nós doamos o sangue para a população”. Ainda durante a greve, os trabalhadores se levantaram contra os atos de racismo, como o assassinato do jovem Mike Brown, promovendo atividades sobre a questão negra, debateram também o machismo, a homofobia e a transfobia.


5) Ninguém fica pra trás!
Em meio a nossa greve 42 metroviários foram demitidos. Os trabalhadores da USP gritaram, ecoando a voz dos metroviários: Ninguém fica pra trás! Organizamos atos pela reintegração dos metroviários, acompanhamos suas ações, abrimos espaço pra qualquer metroviário colocar a sua luta. Também não deixamos para trás os trabalhadores dos Hospitais Universitários (HU e HRAC) que estão sendo atacados junto aos equipamentos de saúde da USP. Em meio à greve, nosso companheiro Fábio Hideki foi preso por se manifestar contra as injustiças da Copa, e novamente gritamos: Ninguém fica pra trás e ele foi libertado depois de 45 dias! Uma das maiores fortalezas dos trabalhadores é a solidariedade de classe. O corte de salário de mais de 1500 grevistas colocou a prova esta ideia. E a solidariedade de classe prevaleceu: todos se ajudaram, contribuindo e apoiando o companheiro que estava sem salário. Esta solidariedade se expressou por outras categorias conosco. A força da greve impôs que os salários fossem pagos.

6) É necessário unir toda a classe trabalhadora
Que os trabalhadores passem a considerar que todas as categorias são parte de uma mesma classe é um grande avanço na consciência. Em nossa greve importantes exemplos foram dados: nos solidarizamos com outras categorias em greve, como os metroviários e os carteiros, além do apoio às lutas de trabalhadores em outros países, com das fábricas da Lear e da Donnelley na Argentina, que sofreram com demissões. Também levantamos a bandeira da efetivação de todos os trabalhadores terceirizados, organizando um importante ato na São Remo, onde moram milhares de terceirizados, chamando a unidade da classe operária.


7) As mulheres na linha de frente
Nas assembleias, nos Comandos de Greve, nos piquetes, nos enfrentamentos com a polícia, na organização cotidiana da greve nas unidades, as mulheres foram linha de frente, com grande destaque para as trabalhadoras do Hospital Universitário. Por isso, foi fundamental a atuação da Secretaria de Mulheres do Sintusp, que contribuiu na organização das mulheres em espaços próprios e levando o debate sobre machismo e homofobia para toda a categoria. Outra lição é que nossa classe precisa levantar, com toda força, a luta das mulheres trabalhadoras e que elas na linha de frente fortalecem muito a luta!

8) Utilizemos os métodos históricos de luta da classe trabalhadora
Nessa greve conseguimos retomar com força os métodos de luta da classe trabalhadora, sempre combinado aos objetivos políticos da greve. Além da própria greve como instrumento de luta, foram organizados dezenas de piquetes, inclusive de 24 horas e, em especial, o “trancaço” dos 3 portões da USP. Resistindo à repressão policial, os trabalhadores permaneceram na linha de frente contra as balas de borracha e gás lacrimogêneo e tivemos mais de 10 feridos. Os cortes de rua foram parte de toda a greve nestes 116 dias, além da retomada de grandes passeatas que marchavam por quilômetros pela cidade se dirigindo à população.

0 comentários:

Postar um comentário

RSS FeedRSS

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Lady Gaga, Salman Khan